Dois viajantes, transviados no sertão, depois de muito andar alcançam o reino dos macacos.
Ai deles! Guardas surgem na fronteira, guardas ferozes que os prendem, que os amarram e os levam à presença de S. Majestade Simão III.
El-rei examina-os detidamente, com macacal curiosidade, e em seguida os interroga:
— Que tal acham isto por aqui?
Um dos viajantes, diplomata de profissão, responde sem vacilar:
— Acho que este reino é a oitava maravilha do mundo. Sou viajadíssimo, já andei por Seca e Meca, mas, palavra de honra! nunca vi gente mais formosa, corte mais brilhante, nem rei de mais nobre porte do que Vossa Majestade.
Simão lambeu-se todo de contentamento e disse para os guardas:
— Soltem-no e dêem-lhe um palácio para morar e a mais gentil donzela para esposa. E lavrem incontinenti o decreto de sua nomeação para cavaleiro da mui augusta Ordem da Banana de Ouro.
Assim se fez e, enquanto o faziam, El-rei Simão, risonho ainda, dirigiu a palavra ao segundo viajante:
— E você? Que acha do meu reino?
Este segundo viajante era um homem neurastênico, azedo, amigo da verdade a todo o transe.
Tão amigo da verdade que replicou sem demora:
— O que acho? É boa! Acho o que é!…
— E que é que é? — interpelou Simão, fechando o sobrecenho.
— Não é nada. Uma macacalha… Macaco praqui, macaco prali, macaco no trono, macaco no pau…
— Pau nele — berra furioso o rei, gesticulando como um possesso. Pau de rachar nesse miserável caluniador…
E o viajante neurastênico, arrastado dali por cem munhecas, entrou numa roda de lenha que o deixou moído por uma semana.
Moral:
*Quem for amigo da verdade, use couraça ao lombo*.
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