O pavão, de roda aberta em forma de leque, dizia com desprezo ao corvo:
- Repare como sou belo!
Que cauda, hein?
Que cores, que maravilhosa plumagem!
Sou das aves a mais formosa, a mais perfeita, não?
- Não há dúvida que você é um belo bicho -- disse o corvo.
Mas, perfeito? Alto lá!
- Quem quer criticar-me!
Um bicho preto, capenga, desengraçado e, além disso, ave de mau agouro...
Que falha você vê em mim, ó tição de penas?
O corvo respondeu:
- Noto que para abater o orgulho dos pavões a natureza lhes deu um par de patas que, faça-me o favor, envergonharia até a um pobre diabo como eu...
O pavão, que nunca tinha reparado nos próprios pés, abaixou-se e contemplou-os longamente.
E, desapontado, foi andando o seu caminho sem replicar coisa nenhuma.
Tinha razão o corvo:
*não há beleza sem senão*.
"Monteiro Lobato"
beijinhos de luz...
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