Beto estava muito triste. Seu cão ficou doente e, apesar de todos os cuidados, morreu em seus braços sem que ele nada pudesse fazer para impedir.
Já havia se passado uma semana, mas Beto continuava inconsolável. Não se conformava com a morte do cãozinho Vira.
Lembrava, com saudade, do dia em que encontrara Vira, ainda um filhote, perdido na rua perto de sua casa. Tinha aspecto de cão abandonado. Seu pelo era ralo e feio, estava muito magro e gania de fazer dó. Tinha fome, certamente.
Apesar da feiura, Beto sentiu imediata simpatia por ele. Tomou-o no colo e, quando o cãozinho lambeu seu rosto, já estava decidido a levá-lo para casa.
Recebeu o apelido de Vira, de tanto os familiares caçoarem do pobre e feio filhote, dizendo que ele era um legítimo exemplar da raça dos Vira-latas. Assim, apesar do nome que Beto lhe dera, Rex, passou a ser chamado carinhosamente de Vira.
Desde esse dia, tornaram-se inseparáveis. Só não estavam juntos quando Beto ia para a escola e durante a noite, pois a mãe proibira, terminantemente, que o animalzinho dormisse no quarto, como era desejo do menino.
O resto do dia eles divertiam-se a valer: brincavam de bola, apostavam corridas, passeavam na calçada, ou, simplesmente, rolavam na grama.
Vira transformara-se num belo cachorro. Limpo e bem cuidado, em nada lembrava o filhote magro e feio que Beto encontrou um dia.
Mas agora Vira estava morto. Beto sentia muita falta da sua companhia e vivia a chorar pelos cantos. A mãe não sabia mais o que fazer para alegrá-lo.
Um dia, ela teve uma ideia. Apanhou uma semente de flor e disse:
— Meu filho, quer ajudar-me a plantar esta semente?
Apesar de não ter vontade nenhuma, Beto aceitou, apenas para agradá-la.
Dirigiram-se para o jardim e a mãe foi explicando como o serviço deveria ser feito:
— Primeiro você fará um buraco no solo. Depois depositará a semente na cova e cobrirá com um pouco de terra. Esta semente, meu filho, lançada ao solo, irá morrer e, depois de algum tempo, germinará.
O menino, que ainda era pequeno, não entendeu direito e perguntou:
— Bem, meu filho, tudo o que existe na face da Terra, e que tem vida, precisa morrer para nascer de novo, isto é, voltar a viver. Como isso acontece, só Deus, que é a Suprema Sabedoria e o Criador de tudo o que existe, o sabe. Mas assim acontece com as plantas, com os animais e com as pessoas, para que todos evoluam, tornando-se cada vez melhores!
Beto ouviu muito sério e compenetrado. Em seguida, indagou:
— Isso vai acontecer também com o Vira?!...
— Sem dúvida! Só que a sementinha dele, que é o espírito, renascerá de uma outra mãe, em outro local.
— Ah!... E eu poderei reconhecê-lo?
— Quem sabe? Se nascer aqui por perto, isso é possível! Ele poderá apresentar o mesmo jeitinho, as mesmas manias, as mesmas tendências.
— Então, se algum dia eu reencontrar o Vira, vou reconhecê-lo, mamãe, e tenho certeza de que ele também vai se lembrar de mim.
Beto calou-se, mas a mãe percebeu que, ao deixarem o jardim, ele já estava diferente, menos triste e bem mais animado.
A partir desse dia, Beto cuidou com muito carinho da sementinha que tinha lançado a terra. Cercava-a de atenções, não deixando faltar água. Ele passava horas sentado no chão, ali perto, pedindo a Jesus que permitisse à semente germinar, enquanto observava cuidadosamente o local onde a depositara.
Até que, alguns dias depois, cheio de alegria e entusiasmo ele correu para a mãe, agitando os braços e gritando:
— Ela brotou, mamãe! Ela brotou! A sementinha está viva de novo! Viva!...
A mãezinha deixou os afazeres domésticos e foi até o jardim. Os olhos do menino estavam brilhantes de emoção, e ela percebeu como tudo aquilo era importante para seu filho.
Envolveu-o carinhosamente num abraço, afirmando:
— Você cuidou muito bem da semente que lhe confiei, meu filho, e Deus atendeu às suas preces. Parabéns!
Desse dia em diante, acompanhando o desenvolvimento da plantinha, Beto enchia-se cada vez mais de esperança, de confiança e de gratidão a Deus, Supremo Doador da Vida.
Logo, a plantinha cobriu-se de lindas e perfumadas flores, que Beto não se cansava de admirar e mostrar para as outras pessoas, cheio de justa satisfação, dizendo:
— Fui eu que plantei!
Agora, a idéia da morte não lhe causava mais tristeza ou medo. Ao contrário, sentia-se tranqüilo e confiante, compreendendo que a morte era apenas uma etapa natural na vida de todos os seres da Criação, que morreriam e voltariam a nascer, muitas e muitas vezes, para atingir o sublime objetivo da evolução.
Célia Xavier de Camargo
Tia Célia
beijinhos de luz...
beijinhos de luz...
Um comentário:
Passei por aqui! Um abraço!
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