Três irmãos viviam no meio de um bosque escuro, muito escuro, a pouca distância do mar azul e puro.
Tinham tido a desventura de perder os pais quando eram ainda meninos, e viviam lá muito solitários.
Um dia, finalmente, o mais velho, aborrecido de tanta solidão disse:
– “Além do bosque está o mar azul e puro, e além dele, à margem de lá, uma cidade rica e bela.”
E o outro acrescentou:
–“Dizem que lá encontram-se árvores belas, como as da nossa floresta, e pássaros que cantam também como os que temos aqui, em torno da nossa casinha paterna?”
Mas o maior replicou:
– “Partirei em busca desta felicidade.”
O segundo repetiu:
–“Partirei também para tentar a minha fortuna, ou para ver se me será dado encontrar a felicidade.”
O terceiro abaixou a cabeça e nada falou:
Selaram os cavalos, os seus belos cavalos negros, tomaram as lanças, as suas boas lanças de ferro, luzentes e agudas, e partiram todos três à procura da felicidade.
O mais velho atravessou a montanha, e entrou no país, vasto e fértil; o segundo passou o mar azul e puro a bordo de um barco, e recolheu-se na cidade rica e bela, lugares onde deveriam encontrar a felicidade, mas nunca puderam vê-la.
O mais jovem, no entanto, não se tinha retirado para longe. Estava ainda junto do bosque, quando sentiu o coração palpitar no peito.
Ergueu-se então, e disse ao cavalo negro:
– “Seria melhor se tornássemos à casa paterna, no meio da floresta escura, muito escura.”
Tirou a brida ao cavalo, ao seu belo cavalo negro, e tornou a conduzi-lo ao casebre.
As árvores agora começavam a murmurar mais suavemente e a inclinar-se ante ele como para saudá-lo; e os pássaros seguiam-no saltando de ramo em ramo, cantando.
E a floresta inteira parecia dizer-lhe:
–“Fizeste bem em voltar!”
Perto da casa paterna viu uma rapariga de cabelos dourados, sentada no portal, atenta a olhá-lo, tendo a seus pés um lindo gato, envolto nas dobras do seu vestido, a dormir.
–“Quem sois?”, perguntou o moço à bela rapariga de cabelos dourados.
Ela piscou-lhe os seus grandes olhos doces, e sorrindo respondeu:
– “Sou a Felicidade!…
Histórias do Arco da Velha — Livro para crianças, de Viriato Padilha,
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