APRENDER A REALIZAR
Aquelas manhãs eram especiais.
Ao primeiro domingo de cada mês, depois da aula de Evangelização, nossos pais levavam-nos até a Feira de Artesanato de nossa cidade.
Ali adquiríamos brinquedos e artigos escolares com as economias de nossas mesadas.
Economizando há dois meses, meu coração pulava dentro do peito por estar próximo de realizar o meu pequeno desejo. O plano era o de comprar um porta-lápis de madeira em formato de nave espacial.
Útil para organizar lápis e canetas, era bem construído, colorido e decorativo. Luiza, minha irmã, estava igualmente ansiosa por comprar roupinhas novas para a velha boneca Gabi.
Nossos pais, como de hábito, aguardavam nossas compras para que todos juntos pudéssemos lanchar as delícias oferecidas nas barracas de alimentação.
Quando eu estava fechando o negócio, percebi aproximar-se um garoto abatido, de roupas simples e olhar tristonho que sorrindo, disse-me:
- “Você está levando para sua casa esse objeto? - Para que serve?”
- “Para eu guardar meus lápis e canetas”.
- “Hum!... Se sobrar um trocadinho, você pode me comprar um sanduíche? É que... eu não comi nada, hoje e.... desculpe, não quero incomodar, já vou indo”.
- “Não, espere! Não vá ainda”. E entre o garoto faminto e o objeto em minhas mãos, procurei pelo olhar de minha mãe que observava atenta:
- “Marcos, você já aprendeu nas aulas de Evangelização. Faça o que diz o seu coração” - respondeu-me carinhosamente.
Olhei para Luiza que imediatamente, desviou o olhar.
- “Moço”, falei para o dono da barraca, “levarei o porta-lápis na próxima vez. Muito obrigado”.
Luiza, envergonhada, cochichou ao meu ouvido:
- “Apoiado, mano. Vamos convidá-lo para almoçar conosco e assim, poderemos pagar as despesas”.
Felizes, fomos todos lanchar com o garoto Miro, órfão de pai, que procurava levar algum alimento para casa com a venda de panos de secar louça bordados por sua mãe.
Meu pai, interessado em ajudá-lo, deu ao Miro um pequeno cartão com o endereço da Instituição Espírita que freqüentávamos, para que sua mãe procurasse o Serviço Assistencial daquela Casa de doação e amor.
Luiza e eu oferecemos o troco do lanche para que Miro e sua mãe pudessem chegar até lá.
Ganhamos um novo amigo e nos meses seguintes, pudemos encontrá-los semanalmente no Centro Espírita, observando o progresso daquela família que aprendemos a amar e respeitar.
Não compramos nada naquele dia, mas o tempo e a amizade compartilhados com Miro, a oportunidade de conhecê-lo melhor estará para sempre em nossas lembranças.
Lembranças felizes adquiridas na Evangelização das manhãs de domingo da nossa infância.
autora:
Isabel. C. Ditzel
bjs,soninha
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